Brasil desperdiça 18 milhões de litros de sangue ao ano por preconceito
Homens gays não podem ser doadores - a menos que passem 12 meses sem sexo.
A restrição representa um desfalque considerável
nos estoques de sangue. Em 2014, apenas 1,8% da população brasileira doou 3,7
milhões de bolsas. É bastante sangue, mas é pouca gente – ideal da ONU é que 3
a 5% da população de uma nação seja doadora. Mas só conseguiríamos chegar nesse
ideal de 3% se o número de brasileiros que vão regularmente aos hemocentros
dobrasse. Ainda é pouco.
Para o Ministério da Saúde, os 12 meses de
abstinência sexual fazem parte de um conjunto de regras sanitárias para
proteger quem vai receber a transfusão de possíveis infecções – até 2004,
homens que fazem sexo com homens (HSH) eram proibidos de doar sangue. A
Portaria nº 2712, de 12 de novembro de 2013, segue a recomendação da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)
sobre a restrição de HSH, de que todas as amostras de sangue sejam analisadas e
de que os doadores sejam de baixo risco. O Ministério e a Anvisa afirmam que
orientação sexual não deve ser usada como critério para seleção de doadores e
que as regras não são discriminatórias. Mas a realidade dos hemocentros não é
bem assim.
Em 2014, o
tio do jornalista João Teixeira* estava internado na UTI do Hospital 9 de
julho, em São Paulo, e a família foi procurada para doar sangue. João, doador
frequente desde os 17 anos, foi o único barrado no momento da entrevista. Ao
responder que mantinha relações sexuais com homens, a médica disse que o sangue
não seria aceito pelo fato dele ser gay. Perplexo, explicou que estava em um
relacionamento sério há mais de um ano e que sempre usava preservativo. A
resposta foi estarrecedora: “Você é uma exceção entre os gays, a maioria é
promíscua e se você estivesse doente, também não ia querer um sangue ruim”.
Desde então, João nunca mais doou sangue.
O Ministério
da Saúde diz que mantém a restrição por motivos científicos.
No entanto, entre
homens que transam com homens, a prevalência do vírus é de 10,5%. Para a OMS, o
risco de HSH serem contaminados é 19,3 vezes maior que homens que não transam
com homens. A Anvisa afirma que faltam estudos sobre práticas sexuais seguras
entre homens, como uso de camisinhas e relações monogâmicas, e que isso
dificulta a avaliação dos possíveis doadores.
Sendo
assim, o Ministério da Saúde considera que os candidatos à doação que admitirem
transar com homens são “temporariamente inaptos”, porque têm mais chances de
terem uma doença infecciosa e de seus exames apresentarem resultados negativos,
mesmo sendo portadores de algum vírus.

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